À luz de uma alteração aos seus termos de serviço, o popular serviço de mensagens WhatsApp perdeu esta semana milhões de utilizadores, que migraram para outras aplicações como o Signal e o Telegram, ambos afirmando oferecer melhor privacidade. Quais são os riscos envolvidos na utilização de tais aplicações e como podemos mitigá-los?

É nossa responsabilidade, enquanto consumidores, pensar cuidadosamente sobre os dados que damos às empresas.

A recente publicação de uma nova política de privacidade da Apple fez com que muitos de nós revisitassem aquilo com que se sentiam confortáveis do ponto de vista da privacidade dos dados. A realidade da nova política da WhatsApp é que ela apenas afeta a forma como se pode interagir com as empresas, não obriga à recolha de novos dados, nem afeta o conteúdo das suas conversas.

Embora muitos de nós possam considerar mudar para serviços alternativos, isso nem sempre é fácil pelo facto de muitos dos seus amigos e colegas ainda não estarem nessas novas redes. Especialmente quando a tipologia dos nossos amigos engloba diferentes grupos etários, isso poderá tornar-se mais difícil uma vez que cada geração tende a preferir um determinado serviço em detrimento de outro.

O que podemos fazer nesses casos é considerar a nossa própria abordagem à privacidade dos dados, que pode ser dividida em três grandes categorias: o que partilhamos, como partilhamos e as ferramentas que utilizamos.

Se considerarmos primeiro o que partilhamos, devemos colocar a nós próprios as seguintes questões:

  • Ao partilhar os nossos dados com empresas, será que precisamos de partilhar toda a informação solicitada?
  • Quando partilhamos conteúdos ou pensamentos com outros, será que confiamos neles ou no sistema que usamos para manter essa informação segura?
  • Em última análise, importar-nos-íamos se a informação que partilhamos com empresas, amigos e contactos, fosse tornada pública?

Ao considerarmos o que partilhamos com empresas, torna-se crítico compreender as implicações. Embora haja uma necessidade de as empresas cumprirem as normas de privacidade de dados (RGPD - Regulamento Geral de Privacidade de Dados), como vimos, muitas sucumbem às táticas nefastas dos hackers. Torna-se, assim, nossa responsabilidade como consumidores de serviços da Internet pensar duas vezes sobre os dados que disponibilizamos. Mais importante ainda é compreender os direitos que damos às empresas que armazenam os nossos dados, especialmente quando o seu serviço é gratuito. Tornámo-nos demasiado complacentes ao inscrevermo-nos para testes gratuitos de produtos ou serviços gratuitos na Internet sem pensar no que estarmos a dar em retorno quando nos inscrevemos. Não o faríamos no mundo físico, então porque não pensamos duas vezes sobre isso quando o fazemos online?

A alteração da política WhatsApp tem sido deturpada nos meios de comunicação social, mas permitiu que muitos de nós refletíssemos sobre o que consideramos ser uma utilização apropriada dos nossos dados. A questão mantém-se: o que estamos dispostos a fazer em relação à nossa privacidade?

Vamos deixar de utilizar serviços como o WhatsApp, Facebook, Instagram e outras plataformas sociais? Seremos nós, de facto, capazes de o fazer?

Alguns conselhos a ter em conta ao considerar a sua própria privacidade online:

  1. Faça uma auditoria digital dos serviços e aplicações que utiliza e não utiliza. Se já não utiliza o serviço, faça o sign out de todas as comunicações e peça às empresas para removerem os seus dados.
  2. Pense cuidadosamente no que partilha em grupos de conversação de redes sociais ou outras redes e se se sentiria à vontade para que esse conteúdo fosse apresentado a um público mais vasto.
  3. Compreenda que cada visita a um website cria uma pegada digital a que os anunciantes poderiam aceder.
  4. Para proteger a sua privacidade, utilize ferramentas para mascarar a sua utilização, tais como uma VPN (Virtual Private Network) e considere a utilização de um gestor de senhas para gerar e gerir diferentes senhas em diferentes sites.

A privacidade deve ser um direito que cada um de nós tem de defender à medida que nos tornamos cada vez mais dependentes da Internet e dos serviços digitais. Precisamos de nos manter vigilantes e experientes para garantir o nosso direito à privacidade à medida que a tecnologia continua a evoluir.

Fonte: https://the.ismaili/global/news/features/becoming-online-privacy-savvy