Pela ocasião da celebração do Dia Mundial da Saúde Mental, a 10 de Outubro de 2023, é importante pensarmos sobre formas de encontrar, ou talvez construir, o equilíbrio nas nossas vidas.
Sabemos que o mundo de hoje se rege por um ritmo acelerado e com uma exigência nunca dantes sentida. É um mundo que não descansa, sempre alerta e vigilante. A procura incansável pelo sucesso, pelo desenvolvimento profissional e a pressão simultânea para mantermos uma vida social e familiar ativa e perto da perfeição, podem ter um impacto significativo na nossa saúde mental. Somos um espelho do que se passa no mundo que nos envolve e, consequentemente, sentimos muitas vezes que a nossa mente e o nosso corpo não descansam, querem sempre mais e mais, estão sempre alertas e vigilantes.
Eventualmente, a decisão de priorizar a nossa saúde mental tem de acontecer, mas como podemos “construir” o equilíbrio que nos conduza a um maior bem-estar emocional?
- O Self-Care como uma prioridade não-negociável
Na vida agitada do quotidiano, muitas vezes o auto-cuidado é o parente mais pobre e acaba por ser negligenciado. No entanto, é preciso reconhecermos que cuidarmos da nossa saúde emocional e psicológica não é um luxo, mas sim uma necessidade. Não precisamos de ir a um spa, ou tirar umas férias prolongadas, mas talvez consigamos encontrar e encaixar no nosso dia-a-dia algumas atividades realistas que sirvam de mini balões de oxigénio, ou pequenos confettis de alegria. Pode ser uma caminhada de 5 minutos na natureza, a prática de Mindfulness, ler um parágrafo do livro que está na mesa de cabeceira, ou dedicar-se consistentemente ao hobby que o ajuda a descontrair. Pode ser apenas desligar os dispositivos eletrónicos e fazer uma luta de almofadas divertida com os seus filhos.
- Trabalhar os limites pessoais
Por vezes deixamo-nos levar... pelo que os outros querem, pelo tempo que passamos nas redes sociais, ou pelos e-mails que chegam em sequência e sentimos que temos de responder. Neste mundo digital, tornou-se implícito que “temos” de estar sempre ligados e disponíveis, mas esta é uma questão que pode (e deve) ser trabalhada, por todo o stress que pode trazer para a nossa vida. Estabeleça limites claros sobre a forma como quer interagir com a tecnologia e até noutras tarefas e responsabilidades, e comunique esses limites a quem o rodeia, familiares, colegas de trabalho, amigos, para que eles saibam como respeitá-lo e consigam compreender o que está em causa.
- Mindfulness
O Mindfulness é uma prática que pode estar incorporada no seu dia-a-dia, desde as tarefas mais simples como escovar os dentes, até às mais complexas, nos seus relacionamentos. Mindfulness é uma atitude e prática que implica a sua atenção total e plena, sem julgamentos, no momento presente. Quando praticado consistentemente ao longo do tempo, tem efeitos muito positivos no bem-estar psicológico e físico, e minimiza os efeitos do stress e da ansiedade, aumentando a perceção de paz e equilíbrio.
- Procure Ajuda e crie uma rede de apoio
Somos seres sociais e como tal, precisamos de uma rede de apoio, não só nos momentos felizes e de celebração, mas também nos momentos mais difíceis e nos desafios que a vida nos pode trazer. Alimente as suas relações, fale com familiares e amigos, ou procure ajuda especializada quando necessário. Por vezes é importante encontrar um espaço seguro para expressarmos as nossas emoções ou para prevenirmos estados que podem agravar-se. A psicoterapia pode ser um recurso importante para ajudar-nos a desenvolver competências e a aumentar os níveis de bem-estar emocional.
- Aceite as imperfeições da vida
A perfeição pode ser uma fonte de stress muito grande na vida atual. No entanto, a vida, tal como as pessoas e as relações, não são perfeitas. Aceitar que não conseguimos atingir a máxima performance em várias áreas da vida em simultâneo, pode ajudá-lo a focar-se no que realmente é mais importante para si.
Já ouviu falar da filosofia Wabi-Sabi? É uma filosofia Japonesa elegante aplicada à estética, à forma como nos relacionados connosco próprios e com os outros. É um conceito que nos permite procurar a beleza nas imperfeições e a aceitar o ciclo natural da vida. Os Japoneses aplicam por exemplo este conceito à cerâmica, onde uma chávena de chá partida é recuperada e colada com pó de ouro, como símbolo da beleza que algo partido e vulnerável nos pode trazer. Também assim somos todos nós, incompletos, imperfeitos e impermanentes.
O mundo atual tem sido marcado por um ritmo de vida muito acelerado, o que traz consigo faturas elevadas no plano da saúde mental, pelo que “construir” uma vida equilibrada e dar atenção ao nosso bem-estar psicológico é primordial. O equilíbrio não será, com certeza, algo que se encontra, ou uma meta que quando se atinge nunca se perde. E este equilíbrio também é diferente de pessoa para pessoa. Será um processo dinâmico, com maior e menor estabilidade. Mas há que trabalhar para esse equilíbrio de forma intencional. Ao encarar o seu auto-cuidado como prioritário, trabalhar os seus limites pessoais, e a incorporar práticas como o Mindfulness ou a procurar apoio social quando precisa, e também a aceitar as imperfeições da vida, está assim a construir um caminho para um bem-estar psicológico mais sólido e uma vida mais realizada.
Lembre-se que às vezes é preciso desacelerar, respirar fundo, abrandar ou até parar para repensar o nosso trajeto. Porque só assim conseguimos focar-nos naquilo que é verdadeiramente importante na nossa vida. E precisamos deste recurso tão importante, da nossa saúde mental bem equilibrada, para fazer face aos desafios do mundo em que vivemos.
