"Aprender uma atividade que implique autocontrolo ou estar sentado a olhar para ecrãs têm resultados distintos", afirma o neuropsicólogo e investigador Lutz Jäncke.

Lutz Jäncke é alemão e reside na Suíça. É diretor do departamento de neuropsicologia da universidade de Zurique e já conduziu inúmeras investigações. A sua mais recente investigação explora como a música molda o cérebro do ser humano e as suas estruturas. Tanto para psicológicos como para cidadãos normais, esta investigação é de extrema importância pois afirma que a nossa cabeça é tal como uma máquina, que aprende e funciona ao longo da vida. Possui uma capacidade de plasticidade, que tem de ser trabalhada e estimulada desde muito cedo, que seja praticada e exercitada, senão é impossível tirar o partido dos ganhos da música e do desenvolvimento de outras capacidades como as funções sensoriais e o controlo da memória. Esta máquina aprende, assim, ao longo da vida e do desenvolvimento humano e possui plasticidade cerebral. No entanto, esta capacidade tende a perder-se, a menos que se comece a estimulá-la desde cedo e que se invista tempo suficiente na prática.

É por isso que desde há muito tempo que a música é vista como uma experiência gratificante, uma força motriz que liga todos os seres humanos e um registo de comunicação que permite que as pessoas se sincronizem e que expressem os seus diferentes registos emocionais de uma forma pré-verbal.

É com base neste pensamento que surge também uma das conclusões mais importantes do seu estudo: “Os músicos profissionais têm mais ligações anatómicas e funcionais: os circuitos cerebrais apresentam uma maior robustez e disparam de forma sincronizada. Quanto mais cedo se iniciar o treino musical, maior tenderá a ser essa conectividade”.

É assim é importante exercitar esta capacidade de plasticidade cerebral. Afirma: “Os pais devem saber isto: o que os vossos filhos fizerem, ou não, durante a puberdade, ou antes dela, vai moldar o cérebro deles. Aprender uma atividade que implique autocontrolo ou estar sentado a olhar para ecrãs tem resultados distintos. Aquilo que fizermos na adolescência e o tempo que investirmos nisso serão determinantes na construção das reservas cognitivas e anatômicas do cérebro e na forma como ele envelhece”.

E é aqui que entra a pandemia: os jovens passaram a ficar mais tempo ligados aos seus computadores, a olhar para um ecrã durante as aulas e para outros nos seus tempos de lazer. É muito diferente ficar o dia todo à frente de um ecrã ou praticar outro tipo de atividades, tal como atividades que promovam o autocontrolo. Porém, se existir autodisciplina é possível exercitar o corpo, nem que seja por pouco tempo, sem esquecer que a solidão pode aumentar os riscos de degenerescência cerebral, e isso é um pouco assustador pelos efeitos a longo prazo.

A experiência e o talento também se encontram interligados. Para ser um grande músico é preciso talento sim, mas sem esforço, prática e trabalho é impossível tornar-se um exímio profissional.

Em idades mais adultas, como na reforma, é possível sim moldar o cérebro em idades mais tardias, através da estimulação de certas funções como a memória, atenção e a autodisciplina, no entanto é necessário começar a preocupar-se com esta o mais cedo possível.

in Revista Visão